Coisas que ouço (2)

Hoje estive imenso tempo a tentar convencer um gaiato de 4 anos a mostrar-me os dentes. [Só mostrar!]

Não consegui. Os pais assistiam, impávidos e serenos, às minhas tentativas frustradas de o fazer abrir a boca. Não disseram absolutamente nada e deixaram-no fazer toda a fita que quis.[Alguma vez um filho da minha Mãe se portava desta maneira? Havia de ser bonito...!]

A minha paciência de Jó acabou ao fim de uma hora. Depois desisti. [Já com o miúdo e com os pais pelos cabelos!] Disse aos pais que só o voltassem a trazer quando ele quisesse mesmo vir. Foram-se embora contrariados. Os pais olhavam-me como se eu tivesse culpa da birra que o filho fez. Como se eu tivesse obrigação de o convencer a colaborar. [Ora porra, ninguém me paga para educar os filhos dos outros!]

Quando eu já estava, calmamente, a explicar a um outro paciente o tratamento que ia fazer, entra a mãe (de mão dada com o puto), de rompante, pelo consultório adentro [Sem sequer bater à porta.]:

- Agora ele já quer! Doutora, temos que aproveitar!

Como é evidente, passei-me. Completamente. Confesso que os modos com que me dirigi a ela não foram dos melhores. Mas também! Foi merecido. Há gente cá com uma lata!

Paciência, meu Deus! Dai-me paciência...!!